Espero que gostem,
Ju.
Amor de Carnaval
Queria tomar um chocolate quente na cafeteria para espantar o frio atípico daqueles dias de momo, mas chegar lá não estava fácil: pelo caminho, a massa humana insistia em se espremer e esbarrar em si; seu guarda-chuva estava quebrado e suas roupas ensopadas, apesar de não ter ficado tanto tempo ali.
A multidão, alheia às adversidades climáticas e à sua existência, acompanhava o bloco ao som do “hit” do momento.
Em meio àquela confusão de água, trombadas e “esfrega- esfrega”, deu com longos e molhados cabelos cacheados, acompanhados de um par de olhos castanhos não muito grandes e uma boca carnuda, vermelha, ornada por dentes brancos. Um rosto comum, acompanhado de um corpo maior do que o considerado “normal” ou “tolerável” na sociedade da qual fazia parte.
A aproximação ocorreu sem qualquer problema: perguntou-lhe o nome, obteve resposta; diante da receptividade, o convite para “conversar em um lugar mais calmo” e não demorou a tê-la em sua cama e concretizar o que havia planejado, vivendo uma loucura, quatro dias que seriam esquecidos facilmente.
Tão facilmente que, vários meses, ainda se lembrava daqueles momentos como quando aconteceram, sentindo o aroma que ela exalava, a textura da pele, a maciez dos cabelos, seus contornos...
Ainda estava presente o paladar daquela boca, quando se lembrava dos beijos que trocaram; ela provocava, beijando levemente seus olhos, depois as bochechas, depois a ponta do nariz e, por fim, o lábio superior, para só então invadir a boca com seu gosto doce e quente.
Finalmente, recordava da sensação de liberdade e da alegria que lhe despertou; ao lado dela, não precisou fingir ser o que não era: andou de pés no chão, riu a plenos pulmões, comeu à vontade, deixou de fazer exercícios, fez amor como sempre quis.
Andaram de mãos dadas, por todos os cantos daquela cidadezinha, lugar de sua aventura, o mundo daquela que se tornou seu presente, ao menos naquela semana...
Partiu. Simplesmente. Nem uma palavra. Sem abraços. Sem beijos. Sem a promessa de um possível retorno, embora soubessem que estavam eternamente ligados, enquanto aquelas lembranças povoassem suas mentes.
Esses pensamentos borbulhavam em sua cabeça e por ela passava uma série de sentimentos: a alegria do retorno, a saudade saciada...
Notou um burburinho na praça, onde se conheceram; um grupo de mães com seus filhos brincavam ali.
Observando de longe, notou a jovem, que parecia segurar um bebê.
Diante de seu grande amor, os olhos da jovem marejaram; ela, então, virou-se rapidamente na direção do homem que a chamava.
Um homem já velho, que a pegou pelo braço e a levou para uma casa do outro lado da praça.
Olhando para trás, percebeu o amor que ela sentia e a besteira que fizera, abandonando ao seu grande amor, bem como ao seu filho.
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